Quantas vezes minha esperança será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar? Tudo isso que está aí no ar,
malas, cuecas que voam entupidas de dinheiro, do meu, do nosso dinheiro
que reservamos duramente para educar os meninos mais pobres que nós,
para cuidar gratuitamente da saúde deles e dos seus pais, esse dinheiro
viaja na bagagem da impunidade e eu não posso mais.
Quantas vezes, meu amigo, meu rapaz, minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis existem para aperfeiçoar o aprendiz, mas não
é certo que a mentira dos maus brasileiros venha quebrar no nosso
nariz.
Meu coração está no escuro, a luz é simples, regada ao conselho simples
de meu pai, minha mãe, minha avó e os justos que os precederam: "Não
roubarás", "Devolva o lápis do coleguinha", "Esse apontador não é seu,
minha filha". Ao invés disso, tanta coisa nojenta e torpe tenho tido que
escutar.
Até habeas corpus preventivo, coisa da qual nunca tinha visto falar e
sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste: esse é o tipo de
benefício que só ao culpado interessará. Pois bem, se mexeram comigo,
com a velha e fiel fé do meu povo sofrido, então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda vou ficar.
Só de sacanagem! Dirão: "Deixa de ser boba, desde Cabral que aqui todo
mundo rouba" e vou dizer: "Não importa, será esse o meu carnaval, vou
confiar mais e outra vez. Eu, meu irmão, meu filho e meus amigos, vamos
pagar limpo a quem a gente deve e receber limpo do nosso freguês. Com o
tempo a gente consegue ser livre, ético e o escambau."
Dirão: "É inútil, todo o mundo aqui é corrupto, desde o primeiro homem
que veio de Portugal". Eu direi: Não admito, minha esperança é imortal.
Eu repito, ouviram? Imortal! Sei que não dá para mudar o começo mas, se a
gente quiser, vai dar para mudar o final!
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